terça-feira, 12 de abril de 2016


FOTOGRAMAS

Nos dias de recebimento do correio, grande agitação tomava conta da base militar. Seguido à ansiedade e inquietação um silêncio se instalava no acampamento. Nessas horas o tempo parava. Não havia bombas nem tiros. Não havia guerra. O horário da correspondência era o mesmo em todas as bases, então, uma trégua momentânea era concedida. Aliados e inimigos, liam com avidez o relato daqueles que lhes escreviam, tentando saber notícias sobre o mundo. Queriam palavras de consolo de suas mulheres. Fotos. Pingentes. Perfumes. Colares. Qualquer coisa que fosse externa àquilo. Que viesse de fora. Usavam esses objetos como amuletos, uma forma de não esquecer que lá fora ainda havia um mundo. Durante os bombardeios, eles seguravam esses objetos e fechavam os olhos. Alguns os deixavam ao alcance da vista e contemplavam aquelas miragens. Achavam que dali viria alguma resposta ou ordem de cessar fogo. Estavam doentes. Padeciam física ou mentalmente. A enfermidade da guerra até hoje não foi classificada. Atacava diretamente ao espirito. Durante a noite muitos deliravam. Tinham pesadelos terríveis e dormiam abraçados junto às suas cartas tiritando de febre. Era dura a vida no front.

Vinicius Varela

O texto completo de FOTOGRAMAS pode ser lido AQUI (com Vinicius Varela usando o pseudônimo de Quasilúnio)