sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Van Gogh - Os sapatos - Oleo sobre tela - 1885

OS HAICÁIS NAS CARTAS DE VAN GOGH

Tudo aqui é belo
Aonde quer que se vá
Ao monótono meio-dia

Entre bétulas
Um sol vermelho
Campina pantanosa

Nuvens amontoadas
Umas sobre as outras
Recobrem o céu

Uma velha torre mutilada
Um pequeno cemitério abandonado
Um monte de terra, um trigal

Ao fundo o mar
Um mar de sulcos de arado
Um mar de trigo jovem

Lavradores ocupados
Homens trabalhando na estrada
Carroças de esterco

Uma velhinha atenta
Em sua roda de fiar
Um conto de fadas

O céu claro
Campos em verde delicado
Patos bicando a relva

Campos invernais
O moinho não mais existe
Mas o vento continua

Janelas iluminadas
Reflexos na lama
A aldeia em silêncio

Montes de feno
Caminho cinzento
O sol se põe

Uma única gaivota
Numa solidão infinda
O rumor das ondas

Troncos de salgueiro
Num trecho da horta
Recentemente roçada

Arbustos iluminados
O bosque escuro revela
Além, um céu tão azul

Preto de fuligem
Céu de tempestade
Charco na lama

Há plantas da cidade
Mas se você é trigo
Seu lugar é nos campos

No dia de hoje
Tempestade e chuva
Aliás, será bom!

Pôr-do-sol vermelho
A colorir de laranja-fogo
Troncos e folhagens

Trigo maduro
Folhas secas
Uma ala de faias

Nostalgia
Verdadeira vida real
Irrealizável

Cardos empoeirados
Enxame de borboletas
Brancas e amarelas

A pintura será sutil
Mais música, menos escultura
Pois ela promete a cor

Um tecelão, um cesteiro
Estações inteiras a sós
O ofício como distração

PS: Reunimos estes haicáis a partir da leitura do texto corrido em cada carta do artista para seu irmão Theo.