Van Gogh - Os sapatos - Oleo sobre tela - 1885
OS HAICÁIS NAS CARTAS DE VAN GOGH
Tudo aqui é belo
Aonde quer que se vá
Ao monótono meio-dia
Entre bétulas
Um sol vermelho
Campina pantanosa
Nuvens amontoadas
Umas sobre as outras
Recobrem o céu
Uma velha torre mutilada
Um pequeno cemitério abandonado
Um monte de terra, um trigal
Ao fundo o mar
Um mar de sulcos de arado
Um mar de trigo jovem
Lavradores ocupados
Homens trabalhando na estrada
Carroças de esterco
Uma velhinha atenta
Em sua roda de fiar
Um conto de fadas
O céu claro
Campos em verde delicado
Patos bicando a relva
Campos invernais
O moinho não mais existe
Mas o vento continua
Janelas iluminadas
Reflexos na lama
A aldeia em silêncio
Montes de feno
Caminho cinzento
O sol se põe
Uma única gaivota
Numa solidão infinda
O rumor das ondas
Troncos de salgueiro
Num trecho da horta
Recentemente roçada
Arbustos iluminados
O bosque escuro revela
Além, um céu tão azul
Preto de fuligem
Céu de tempestade
Charco na lama
Há plantas da cidade
Mas se você é trigo
Seu lugar é nos campos
No dia de hoje
Tempestade e chuva
Aliás, será bom!
Pôr-do-sol vermelho
A colorir de laranja-fogo
Troncos e folhagens
Trigo maduro
Folhas secas
Uma ala de faias
Nostalgia
Verdadeira vida real
Irrealizável
Cardos empoeirados
Enxame de borboletas
Brancas e amarelas
A pintura será sutil
Mais música, menos escultura
Pois ela promete a cor
Um tecelão, um cesteiro
Estações inteiras a sós
O ofício como distração
PS: Reunimos estes haicáis a partir da leitura do texto corrido em cada carta do artista para seu irmão Theo.
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