FOTOGRAMAS
Nos dias de recebimento do correio, grande
agitação tomava conta da base militar. Seguido à ansiedade e inquietação um
silêncio se instalava no acampamento. Nessas horas o tempo parava. Não havia
bombas nem tiros. Não havia guerra. O horário da correspondência era o mesmo em
todas as bases, então, uma trégua momentânea era concedida. Aliados e inimigos,
liam com avidez o relato daqueles que lhes escreviam, tentando saber notícias
sobre o mundo. Queriam palavras de consolo de suas mulheres. Fotos. Pingentes.
Perfumes. Colares. Qualquer coisa que fosse externa àquilo. Que viesse de fora.
Usavam esses objetos como amuletos, uma forma de não esquecer que lá fora ainda
havia um mundo. Durante os bombardeios, eles seguravam esses objetos e fechavam
os olhos. Alguns os deixavam ao alcance da vista e contemplavam aquelas
miragens. Achavam que dali viria alguma resposta ou ordem de cessar fogo.
Estavam doentes. Padeciam física ou mentalmente. A enfermidade da guerra até
hoje não foi classificada. Atacava diretamente ao espirito. Durante a noite
muitos deliravam. Tinham pesadelos terríveis e dormiam abraçados junto às suas
cartas tiritando de febre. Era dura a vida no front.
Vinicius
Varela
O texto
completo de FOTOGRAMAS pode ser lido AQUI (com Vinicius Varela usando o pseudônimo
de Quasilúnio)
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