O AMOR NAVEGANTE
Permito que fiques
e barquejas-me devagar
preso aos meus remos
À medida que a quilha
treme
e acelera no devaneio sedento
Inicialmente o monte e logo após
a sarça ardente
no mistério do orvalho descido
Da ode que nasce e a folha respira
trova
em todo abandono
Tateias a vergonha e ajoelha-te
travesso
como olhos ávidos e abstraídos
Eles copulam mudos e sôfregos
que como estrelas
iluminam o grito
Cavalgas no mar o intenso destino
e logo após o percurso
batas asas sozinho
Na sombra movas-te e conduzas
a espuma
com vestes de lisura
Pressinto-te quando regressas no eriçar
da tez, na síncope oclusa
do batimento restrito
Enquanto componho
os arredores na aspiração
o desnudo devagar e o arrefeço em mim
SOLANGE DAMIÃO