NÃO
APAGUE EM TI A MINHA EXISTÊNCIA
O tempo passa sem resistência. Ao amadurecer do ir. Cascas de nozes a
fugir na flutuação. A sombra é placenta do fosforescer. O sol lentamente
desaparece em meio aos lençóis coloridos do ocaso. Em tudo uma disfarçada
pressa. Na copa das árvores há o gemido das espumas do mar, na pedra o respirar
do milho nascido. A pimenta é carvão e arde. O homem é solidão e arte. Sua mão
acena enquanto fugimos do tráfego de centenas de carros que nos desafiam.
Peixes subindo a cachoeira, com pressa de se extinguirem no parto para
renascerem nos ovos.
Chega aqui o primeiro salmão. Vem desde o mar. Ele é frio em sua fuga de
pérolas esparramadas. Tão convidativos são os seixos da praia da desova.
Friagem que afugenta uma centena de milhas de revoadas de pássaros para outros
refúgios. Um canavial de gramíneas cerca o rio do viver salmão. Um giz passa e
risca o céu quando escreve o voo de uma abelha que não pousa na flor, apenas
voa de volta para a colméia. O salmão espera. Sabe ele limpo de outros salmões
que virão. A água nasceu antes do peixe. Ou o peixe nasceu antes da água?
Inebriante. Um pouco elétrico. Outro tanto de embalar. Na luz de aluar
solstícios. Revolução não é retaliação, ela é um pouco tesoura, sim, e um pouco
cola de benzina. O cio da água gruda na pele do salmão. Todas as estadias são
curtas. O aço assado derrete e finda líquido, plagiando águas. Areias. Desenhos
de ondas no oculto de reflexos enferrujados. Contra a maré. O rio corre carnes
de morder salmões e o braço de mar empresta pálido chupão de vida fruto
agasalho da semente ainda por nascer dentro de outro salmão porvindouro.
Você acorda em mim no tapete da sala. Suponho-me peixe em seu corpo de
mar. Ao acomodar acomodar-se busca trazer trazer-me para perto de ti assim amo
amo-te enquanto beija beija-me. Há uma sílaba molhada dentro do vocabulário que
se recusa a nascer. Papa ceia pernas bronzeadas estrela do norte supérfluo
querer desistir. Nascer e morrer é lei universal. O tempo em dois dias murcha a
rosa. Admite-se vastidões que suplantam o ir e vir. Deito-te deito-me deitamos
enfim. O mundo é fatalidade em si mesmo. Ou não vimos ainda. Amor por vir.
Beto
Palaio
Arte:
Winslow Homer
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