sexta-feira, 15 de setembro de 2017


RECADO 

Os dias, os canteiros, 
deram agora para morrer como nos museus 
em crepúsculos de convalescença e verniz 
a ferrugem substituída ao pólen vivo. 
São frutas de parafina 
pintadas de amarelo e afinadas 
na perspectiva de febre que mente a morte. 

Ao responsável por isso, 
quem quer que seja, 
mando dizer que tenho um sexo 
e um nome que é mais que um púcaro de fogo; 
meu corpo mutilado em fachos. 
Às mortes que me preparam e me servem 
na bandeja, 
sobrevivo, 
que a minha eu mesmo a faço, 
sobre a carne da perna, 
certo, 
como abro as páginas de um livro 
e obrigo o tempo a ser verdade.


FERREIRA GULLAR

Arte: Edvard Munch

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