sexta-feira, 13 de maio de 2016


ALICE ABDUZIDA 

Através do noticiário da TV era impossível deixar de se assustar. Divulgava-se ali algo estarrecedor sobre um maníaco que assaltava e assassinava senhoras e moças de família. Alice estava atenta aos alardes eletrônicos a respeito deste maníaco que atacava nas redondezas de seu bairro. As notícias asseguravam que ele matava, e depois, estuprava. Evidente que ela não se sentia segura nem dentro de casa, muito menos em sair à passeio por aí.

- Até os ferrolhos das janelas eu confiro todas as noites para saber se as fechei direito… Me dá calafrios só de pensar neste crápula…

Na realidade, Alice se sentia a próxima vitima. Ouvindo às noticias, ela praticamente se via nuazinha, à disposição do facínora. Via-se deflorada e tendo seu corpo de morta ultrajado pelo bandido. Isto ela imaginava fielmente porque ouviu na TV que o serial killer era metódico. Inclusive, de acordo com uma fonte da polícia, os exames indicavam que ele até tornava a vestir as mulheres depois da violência sexual. Alice não quer mais sair na rua sozinha. Ela tem medo de tudo. O próprio carteiro lhe inspira veladas desconfianças. É um homem abrutalhado que olha fixamente para ela enquanto lhe entrega as correspondências. O outro que ela desconfia é um caixa do supermercado local. Este indivíduo, com aparência de um estivador das docas, olha para ela com avidez, diretamente para suas pernas, e depois para seus seios, num perscrutar que a deixa invadida. Este homem desequilibrado a mira despudoradamente e somente depois se propõe, não sem resmungos, a lhe entregar o troco correspondente à compra do mês.

- Será que é ele?

BETO PALAIO

Pintura de Yuri Formichev

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