ALICE
ABDUZIDA
Através do noticiário da TV era impossível deixar de se
assustar. Divulgava-se ali algo estarrecedor sobre um maníaco que assaltava e
assassinava senhoras e moças de família. Alice estava atenta aos
alardes eletrônicos a respeito deste maníaco que atacava nas redondezas de seu
bairro. As notícias asseguravam que ele matava, e depois, estuprava. Evidente
que ela não se sentia segura nem dentro de casa, muito menos em sair à passeio
por aí.
- Até os ferrolhos das janelas eu confiro todas as noites para
saber se as fechei direito… Me dá calafrios só de pensar neste crápula…
Na realidade, Alice se sentia a próxima vitima. Ouvindo às
noticias, ela praticamente se via nuazinha, à disposição do facínora. Via-se
deflorada e tendo seu corpo de morta ultrajado pelo bandido. Isto ela imaginava
fielmente porque ouviu na TV que o serial killer era metódico. Inclusive, de
acordo com uma fonte da polícia, os exames indicavam que ele até tornava a
vestir as mulheres depois da violência sexual. Alice não quer mais sair na rua
sozinha. Ela tem medo de tudo. O próprio carteiro lhe inspira veladas
desconfianças. É um homem abrutalhado que olha fixamente para ela enquanto lhe
entrega as correspondências. O outro que ela desconfia é um caixa do
supermercado local. Este indivíduo, com aparência de um estivador das docas,
olha para ela com avidez, diretamente para suas pernas, e depois para seus
seios, num perscrutar que a deixa invadida. Este homem desequilibrado a mira despudoradamente
e somente depois se propõe, não sem resmungos, a lhe entregar o troco
correspondente à compra do mês.
- Será que é ele?
BETO PALAIO
Pintura de Yuri Formichev
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