quarta-feira, 25 de abril de 2012



...E foi muita maluquice debaixo daquele chuveiro.


ALÊU E A SEREIA (XIV)


ASSimEuQ+ueROnão= No meio da semana Alêu já estava ansioso para que chegasse o Sábado. Contudo ele não comentou nada com Nazaré de que queria terminar tudo com ela e recomeçar sua vida. Embora o amor, para ele, já estava definitivamente trocando de pele. Algo que era da competência e maestria das fadas, as quais fazem suas visitas sem nenhuma precisão ou pontaria. Protegem este aqui e abandonam aquele acolá. Quem caiu nessa emboscada que fique esperto. Não se fie quem ama, nessas tais fadas, porque as decepções existem. Como bem disse um sábio: compra-se a glória com a desgraça alheia. E a dedicada Nazaré não sabia ainda de nada. A bobinha até que estava feliz planejando algo para aquele Sábado, pois inventou de fazer uma moqueca bem temperada, do jeito que o Alêu gosta: regada à cerveja bem geladinha e com as postas de cação flutuando no molho acebolado de camarão, rodelas de tomate, leite de coco e azeite de dendê. E Nazaré está feliz só de ver o Alêu por ali, sendo o seu companheiro de sempre. Nos conformes. A felicidade às vezes inventa possibilidades arretadas, e até impossíveis, que escoam como chuva de verão para dentro dos bueiros. Alêu viu quando Nazaré saiu do apartamento e ficou vagabundeando, solto na rede, brincando de imaginar que o tempo já tinha passado e que já era hora dele rever Mangagaí. Não estava nem aí para a tal moqueca comemorativa da Nazaré. Ela estava era bestando. Misturando estação. Marcando bobeira. Com seu pensamento longe, Alêu ficou empurrando sua rede com o pé, fingindo flutuar. Enquanto sua cabeça está longe, num devaneio próprio para uma manhã de verão em Salvador. Neste vai e vem.  Contudo, ele fica atento para algo. Ao ouvir passos de alguém vindo no corredor. No que ele até adivinhou: só podia ser aquela menina Miranda, uma amiguinha da Nazaré. Pois essa menina, dia sim dia não, morando num apartamento próximo ao de Nazaré, vinha visitá-los com sua faceirice e piadinhas picantes. Só que nesse dia ela estava estratégica demais e, antes de vir, tratou de ficar quietinha, atenta aos rumores de quando Nazaré saísse. Esperou um tempinho e depois correu para o apartamento da amiga com suas outras intenções já servidas e embrulhadas. Destinada ao pecado. Essa Miranda via o vizinho Alêu sempre olhando faminto diretamente para ela e também para suas bem torneadas curvas. Ele não sabia, mas esse olhar a transformava numa pessoa especial, e tudo de maravilhoso ela imaginava com ele, só para concluir o que a sua cabeça romantizada pelas fotonovelas criava. Nestes conformes. Miranda tinha também desplantes e arremedos e vontades de realmente sair azarando com o seu vizinho Alêu. Ela queria porque queria transar com ele. Com este intento. A morena se aproximava sempre com zelos para melhor apreciar Alêu. Nessas visitas constantes ela até chamava a pretinha Nazaré, a concubina de Alêu, de "comadre Zica", isso ela dizia sempre que o assunto delas fosse cair no trajeto da curtição e da vadiação. Agora uma oportunidade para Miranda chegara. Pois justo no dia da compra dos ingredientes para a moqueca, a Miranda sentiu que Alêu estaria sozinho no apartamento, e até viu quando Nazaré saiu para ir ao Mercado. Conseqüentemente Miranda adivinhou que Nazaré iria se demorar mais do que a conta do normal. E justo ela, a vizinha que prometia, de si para si mesma, jamais entrar sozinha no apartamento deles se a comadre não estivesse lá. Questões mais do que respeitosas. Mas, ao gosto de uma novidade, qualquer conselho envelhece mais do que vinho em tonel de madeira perfumada. Ora! E há tanta mulher bonita! Alêu acha que sim. Passam-se momentos aflitivos numa reticência. Então nesses momentos de entressafra ele, eterno vadio, acha toda e qualquer mulher admirável. E o tempo está quente. Foi exatamente quando Miranda entra no apê de Nazaré e ficou dando um agá por ali. Ela tomou alguns goles de caipirinha com Alêu e foi logo soltando o verbo. Falou um monte de sacanagens e liberou a conversação fiada com ele, inclusive isto: “aproveita bobo! Estou tão afinzona de você...”. Ela, malandrinha querendo enrosco, se jogava para cima do Alêu. Isso em vias de antemão, outras palavras, querendo dizer para ele: "só não come se não quer...”. Então Alêu desconversava mangando do tempo: “olha! O sol sexualmente transmissível deu uma ingênua trepada com aquela nuvem acolá...”. No que Miranda aproveita em tom de brincadeira: “tá vendo... Até o sol trepa”. Inesperadamente feliz Alêu chegou mesmo a avaliar aquela oferta avulsa. E pensou até em comê-la. Ele sabia, tal nenhum outro safado, como cutucar a paixão de arrepiar o gozo em uma mulher. E naquele instante a menina Miranda estava mesmo aos riscos de tomar um chinfrado no entre-pernas. Nas posses. Alêu rapidamente tratou de se ajoelhar diante dela, entre a pia e a mesa da cozinha, e iria derreter na língua aquela mulata Miranda, no fácil, como se ela fosse uma brincadeira qualquer. E foi e quis... E quando se ajoelhou, afastando já a beirada de sua calcinha, ele quase chegou a lamber naquela pecadora cepa cor de carmim. Aliás, uma majestosa e convidativa lorpa de carne entontecida pelo desejo... Mas, levantou-se ágil e esclareceu tudo: “cai fora Miranda... Não vou aprontar com a Nazaré não... E você também devia respeitar a minha pretinha... Devia sim!”. E ela: “cê não vai broxar comigo não... Vai Alêuzinho?”. E Alêu: “Miranda você tem é muito fogo... Muita galinhagem... Além disso, sua xavasca está é fedegosa demais!”. Miranda logo sentiu na pele uma surra de repulsa exemplarmente aplicada. Ficou furiosa. Saiu batendo porta. Saiu de lá e se refugiou na escadaria do prédio, chorando e prometendo vingança. Miranda estava revestida de um ódio em que só queria desbancar com o Alêu. Mas no fundo Miranda estava satisfeita de haver, afinal, se revelado para ele. Deste modo, bem depressa, já não o odiava mais e até pensou num meio de fazer as pazes. Foi assim que ela voltou ao apê de Nazaré. Desta vez murchinha, e sem vontade nenhuma de aprontar com o Alêu. A porta ainda estava aberta e Miranda entrou no apê escutando a água do chuveiro caindo. Foi até a porta do banheiro e falou diretamente para o Alêu num tom de gentileza: “Alêu... Sou eu de novo... Vim pedir desculpas... Você tem razão... Acho que estava forçando demais a barra...”. E Alêu: “tá bom, Miranda... Eu também não deveria ter te ofendido daquele jeito... Foi mal para mim também... Faz assim... Como demonstração de que eu te perdôo... Eu sugiro que... Vem cá, Miranda... Tira a roupa e vem tomar um banho aqui comigo...”. Miranda saltitava de alegria por ter sido aceita por ele... E assim ficou nuínha e entrou no chuveiro com ele. E foi muita maluquice debaixo daquele chuveiro. Alêu ensaboou Miranda inteirinha e deixou-se ensaboar. Depois ele foi lentamente se ajoelhando e, aplicando-lhe uma surra de língua. Prestou-lhe demorada homenagem, desde os intumescidos bicos dos seios à bela e carnuda xãna... Em seguida Miranda retribuiu à altura, solfejando no tarugo de Alêu e ele finalmente penetrou-a, sob uma tremenda gana de ambos, para tornar imortal aquele momento único e inesquecível... Entretanto, bem depois, sozinho outra vez no apartamento, Alêu nem pensava mais em Miranda... Ele pensava era num jeito de comunicar para Nazaré que aquele lance entre eles dois, um romance com várias idas e vindas, algo que já durava quase três anos, tinha micado de vez e que não dava mais para eles continuarem juntos... Ele não poderia ficar com a Nazaré se, ao mesmo tempo, farreava com a Miranda e pensava em fugir com Mangagaí. E outros motivos somavam. Ele não estava mesmo numas de continuar com ela. Inclusive aquilo da Miranda ter se insinuado um pouquinho e ele já tinha furunfado com ela na maior zorra... Alêu estava realmente resolvido de romper com a Nazaré... Se há alguém que consiga ficar com uma pessoa sem sentir nada, esse alguém não era Alêu... Cedendo trégua aos inconvenientes ele planejava definir aquilo sem muita delonga. Onde Alêu até zoretava: "chega de aflição... Agora vou é buscar razão para minha vida...”. Seus pensamentos andavam longe... Procurando forças num enredo típico do carnaval baiano, onde tudo quanto é feitio de sonho, em fugaz vertigem, se espalha... Naquele providencial arrebatamento quem ele vislumbra é Mangagaí, que lhe chama, de acordo com sua voz de fada. E Alêu feliz em ser e estar. Com seu coração de leve pluma, flutuando irremediavelmente atrás dela...  

Beto Palaio

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