sexta-feira, 25 de agosto de 2017




A reminiscência
das flores

essa veste muda,
germinada e petalada, nas janelas de vinho, em amparos que carregam uma taça com a delicadeza própria do vitral colorido, descostura os dígitos das roupas enegrecidas, descostura a matéria, desviando à dor, à investigação, ao peito da escuridão.

A reminiscência
das flores

essa efemeridade que pousa na fala — ah!; essa reminiscência que me relata por onde passaste, por onde o teu perfume foi exalado, por onde as veredas foram seduzidas por ti, por onde teus pés foram derramados como saibro; a reminiscência de um tempo, em fevereiro, na estação quando varandamos como pássaros feridos de estrelas, essa reminiscência revolta, exata, que crepita as chamas no corpo.

A reminiscência
das flores

essa luz a quem confio o meu fado de amor solitário, no qual me visto de silêncio.

Solange Damião.


Poema de Solange Damião / Pintura de Anna Marinova

Nenhum comentário: