quinta-feira, 30 de junho de 2011
quarta-feira, 29 de junho de 2011
Ida à Padaria
Esta noite a lua contempla
a avenida Copacabana
em vez de olhar para o mar,
e as coisas mais cotidianas
são novas pra ela. Debruça-se
sobre os fios frouxos dos bondes.
Lá embaixo, os trilhos se esgueiram
até se fundirem ao longe
(entre carros estacionados
que lembram balões coloridos
já murchos e moribundos);
os fios, pela lua atraídos,
somem numa nebulosa
longínqua. A padaria
está imersa na meia-luz –
estamos racionando energia.
Os bolos, de olhar esgazeado,
parecem que vão desmaiar,
As tortas, gosmentas, vermelhas,
doem. O que devo comprar?
Misturam milho à farinha
e as bisnagas ficam doentias –
pacientes de febre amarela
amontoados na enfermaria.
O padeiro, doente, sugere
“pães de leite” em vez de bolo.
Eu compro, e é como levar
um bebezinho no colo.
Sob falsa amendoeira
uma puta ainda menina
dança um chá-chá-chá, girando
como um átomo na esquina.
À sombra negra do meu prédio
um negro levanta a camisa
pra mostra um curativo
cobrindo negra ferida.
Com um bafo de cachaça
potente feito uma bazuca
aponta a bandagem branca
e me diz coisas malucas.
Dou-lhe dinheiro e boa-noite,
por força do hábito. Ah!
Não haveria uma palavra
mais relevante pra lhe dar?
terça-feira, 28 de junho de 2011
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A velha
Eu, esquecida delirante, sou pastora da igreja invisível.
Todos os dias acordo trinta minutos mais tarde do que costumava fazer Catarina da Rússia e preparo meu pão preto com café.
Sim, eu os ouço. Eles se comunicam comigo.
Hoje, sonhei que milhões de pequenas luzes se dividiam em milhões de pequenas cores, que se dividiam em milhões de pequenas almas, que rodavam em torno de milhões de pequenas naves, que invadiam milhões de corpos celestes.
Sim, eu os vejo. Eles vivem comigo.
Agora são três horas em um pequeno país da Ásia. Pássaros saem de dentro dos corpos que bóiam no rio. São três horas e alguns monges ainda dormem.
Eu, esquecida delirante, pastora da igreja invisível, tenho andado em estado alterado de consciência.
Vivo entre papéis, trouxas, retalhos, restos deixados por meu irmão aqui no quartinho dos fundos onde ele tocava blues.
Sim, eu os percebo. Eles estão comigo.
Todas as noites, trinta minutos antes do que costumava fazer Catarina da Rússia, escrevo o nome dele na areia, o nome dele na areia, o nome dele na areia...
Essa chuva toda enquanto a mão pesada do tempo aperta meu peito.
Sei das falácias do amor e do sexo. Tudo tão velho quanto os manuscritos apócrifos enterrados no solo onde ergueram a biblioteca de Alexandria.
Mas, um dia, a loucura cegou o amor e os dois se arrastaram pelo chão.
Sim, eu os amo. Eles sonham comigo
Eu, esquecida delirante, pastora da igreja invisível, capto em ondas curtas a voz dos mortos à luz do dia.
mênstruo no lençol de linho
Com uma lasca, abro as veias do pulso e um rio escorre e a lasca é pedra, seixo,
cascalho do rio.
longe um som de guizos entorpece o leito vermelho e acompanha a trilha que é pedra, lasca, corrente do rio.
Com os olhos fechados, vejo luzes douradas no céu escuro que agora azul, é pedra, seixo, lasca no pulso aberto do rio.
segunda-feira, 27 de junho de 2011
Leonilson
PARA COMEÇAR A FALAR EM LÖIC
.......No meio deste tempo conhecemos uma pequena duende
japonesa que riscava paredes chamando de aspirado
res elefantes ou dinossauros àquilo que fazia
gastamos 15 dias na construção do iglú
os vulcões não foram acesos e meus livros foram
roubados
Como éramos gente do deserto , Löic e eu resolve
mos subir até a montanha na cidade das casas anti
gas , mais um quarto comprido e fino , nessa tarde
achamos um patinho de vidro provavelmente de se
colocar na frente de uma carro americano.....
domingo, 26 de junho de 2011
Cenas de Lavoura Arcáica
AÍ PELAS TRÊS DA TARDE
Nesta sala atulhada de mesas, máquinas e papéis, onde invejáveis escreventes dividiram entre si o bom senso do mundo, aplicando-se em idéias claras apesar do ruído e do mormaço, seguros ao se pronunciarem sobre problemas que afligem o homem moderno (espécie da qual você, milenarmente cansado, talvez se sinta um tanto excluído), largue tudo de repente sob olhares à sua volta, componha uma cara de louco quieto e perigoso, faça os gestos mais calmos quanto os tais escribas mais severos, dê um largo “ciao” ao trabalho do dia, assim como quem se despede da vida, e surpreenda um pouco mais tarde, com sua presença em hora tão insólita, os que estiveram em casa ocupados na limpeza dos armários, que você não sabia antes como era conduzida. Convém não responder aos olhares interrogativos, deixando crescer, por instantes, a intensa espectativa que se instala. Mas não exagere na medida e suba sem demora ao quarto, libertando aí os pés das meias e dos sapatos, tirando a roupa do corpo como se tirasse a importância das coisas, pondo-se enfim em vestes mínimas, quem sabe até em pêlo, mas sem ferir o pudor (o seu pudor, bem entendido), e aceitando ao mesmo tempo, como boa verdade provisória, toda mudança de comportamento. Feito um banhista incerto, assome depois com sua nudez no trampolim do patamar e avance dois passos como se fosse beirar um salto, silenciando de vez, embaixo, o surto abafado dos comentários. Nada de grandes lances. Desça, sem pressa, degrau por degrau, sendo tolerante com o espanto (coitados!) dos pobres familiares, que cobrem a boca com a mão enquanto se comprimem ao pé da escada. Passe por eles calado, circule pela casa toda como se andasse numa praia deserta (mas sempre com a mesma cara de louco ainda não precipitado), e se achegue depois, com cuidado e ternura, junto à rede languidamente envergada entre plantas lá no terraço. Largue-se nela como quem se larga na vida, e vá fundo nesse mergulho: cerre as abas da rede sobre os olhos e, com um impulso do pé (já não importa em que apoio), goze a fantasia de se sentir embalado pelo mundo.
Um conto de Raduan Nassar
Raduan Nassar
Conto compartilhado do site VEREDAS, que pode ser consultado aqui.
sábado, 25 de junho de 2011
John Lennon (em 1966)
John apresentando seu livro IN HIS OWN WRITE.
IN HIS OWN WRITE, o primeiro livro de John.
IN HIS OWN WORDS (coletânea de pensamentos dele).
sexta-feira, 24 de junho de 2011
Outro dia, outro ovo. Outro ovo de ouro! O homem mal podia dormir:
Esperava todas as manhãs pelo ovo de ouro – clara, gema, gala, tudo de ouro! – que o tiraria da miséria aos poucos, e aos poucos o ia guindando ao milionarismo. O fato, que antigamente poderia passar despercebido, na data de hoje atraia verdadeiras multidões. E não só multidões. Rádio, jornais, televisão, tudo entrevistava o homem, pedindo-lhe impressões, querendo saber detalhes de como acontecera o espantoso acontecimento. E a galinha, também, dando aqui e ali seus shows diante dos jornais, câmeras, microfones.
Certa vez, mesmo num esforço de reportagem, conseguiu pôr um ovo diante da câmara da TV. Porém, o tempo passou e muito antes que o homem conseguisse ficar rico, a galinha deixou de botar ovos de ouro. Desesperado, o homem foi ocultando o fato até que certo dia, não se contendo mais, abriu a galinha para apanhar os ovos que ela tivesse lá dentro. Para sua surpresa, não havia nenhum.
Então o homem – espirito bem moderno – resolveu explorar o nome que lhe ficara do acontecimento e abriu um enorme Galeto, com o sugestivo nome de Aos Ovos de Ouro. E isso lhe deu muito mais dinheiro do que a galinha propriamento dita.
Moral: Crie galinhas e deita-te no ninho.
Millôr Fernandes
Leia FABULAS FABULOSAS de Millôr Fernandes aqui.
quarta-feira, 22 de junho de 2011
Carlos Castaneda
Clique para ler a entrevista completa de Carlos Castaneda.
Leia VIAGEM À IXTLAN aqui.
terça-feira, 21 de junho de 2011
segunda-feira, 20 de junho de 2011
Notações de Clarice
1) Ler tirando o excesso de adjetivos brilhantes
2) Ler tirando as palavras "modernas", as soluções modernas, os modismos, as repetições que indicam processos fáceis.
3) Ler tirando tudo o que sinceramente não parecer bem, parecer quebrar (?).
4) Se puder em alguns casos, deixar os fatos indicativos, tirando a idéia.
5) Ler tirando o que parece com Joana (*).
6) Retirar paradoxos, pensamentos complicado-fácil (sic).
7) Tirar certo grandioso (sic).
8) Modificar frases excessivamente ricas.
9) O presente ou imperfeito são os únicos tempos nobres do romance (colocado entre aspas à mão).
10) Tirar o excesso do primeiro capítulo: o tempo rodava sobre si mesmo... Fazer mais limpo, mais gideano.
11) Tirar os brinquedos, os tom falsamente inocente. Tudo é sério.
12) Tirar os "como" de analogia: a coisa é o que ela simboliza. Não bonita como um lirio, mas ela era um lirio.
13) Fazer diálogos vazios e vulgares entre as pessoas.
14) Não fazer dos outros personagens uns bonecos: surgem pouco, mas dão impressão de vida e profundeza.
15) Apagar os vestígios de qualquer processo - não explorar senão de modo diferente os achados.
16) Espalhar mais ela-não-sabia-que-pensava.
17) espalhar a vulgaridade dela em várias cenas.
18) Esqueci o lado ridículo de Daniel, mesmo (?)... (Este item foi escrito à mão por Clarice, não dá para ler a continuidade)
Notas:
Estas regras parecem ter sido criadas para O Lustre, o segundo livro de Clarice, escrito em 1946.
(*) Joana era personagem de Perto do Coração Selvagem, primeiro romance de Clarice.
(?) : dúvidas ao texto... Ou quando existe uma citação que somente a autora conhece a fonte.
O romance O LUSTRE pode ser lido clicando aqui.
O manuscrito de Clarice Lispector pode ser lido ampliadamente aqui.
domingo, 19 de junho de 2011
A leitura é como andar no mundo dos mortos, tudo o que você ouve ali são apenas profecias.
Eu me sinto ultrapassada quando me comparo com os alunos da minha classe.
Frases de Kathy Acker
Kathy Acker
CLIQUE:
Palavras de Charles Shaar Murray sobre seu encontro com Kathy Acker.
O último texto de Kathy Acker.
MY MOTHER: DEMONOLOGY... Um dos livros de Kathy Acker que também pode ser lido nos AUTORES ESTRANGEIROS da Academia Pósmoderna de Letras.
sábado, 18 de junho de 2011
bolacha
morango
cereais
refri
trufa de limão
sabão em pó
amaciante....
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ManuUckermaann
Ilustração:Jaca
LEIA MAIS: para encurtar caminho para nossa página de POEMAS clique aqui...
sexta-feira, 17 de junho de 2011
Almandrade sobre Hélio Oiticica
Texto do Almandrade aqui.
quinta-feira, 16 de junho de 2011
Oswald de Andrade
Clique no furacão cubista de Memorias Sentimentais de João Miramar.
terça-feira, 14 de junho de 2011
Cato no chão migalhas do banquete dos que comem. O que houve? Eu nunca mais ouvi chamar meu nome. A rua é reta, a vida é torta. Quem se importa se eu vou morrer de sede ou se eu vou morrer de fome? O sol está nas bancas de revista e na capa da revista temos sombra, grana e água fresca...
Zeca Baleiro
segunda-feira, 13 de junho de 2011
Marilyn lendo Joyce
Leia FINNEGANS WAKE (no gira-gira daqui).
quinta-feira, 9 de junho de 2011
terça-feira, 7 de junho de 2011
Ilustração: Jaca
1) Os Monstros e a Questão racial na Narrativa Modernista.
2) Anchieta: Textos de Um Observador Atento.
3) Kathy Acker e a nova antropofagia.
4) A idéia era essa: um pau brasil de dar em doido.
domingo, 5 de junho de 2011
Douglas Coupland (Generation X: Tales for an Accelerated Culture)
JUST CLICK "GUM THIEF": CLIQUE PARA LER...
sábado, 4 de junho de 2011
de dões; e ficareis em toda a arte
convosco só, que é só ser inumana.
(Camões)
O cânone dos Lusíadas entregue pelo poeta à Vasco da Gama.
CLIQUE PARA AS RIMAS DE CAMÕES...