segunda-feira, 20 de junho de 2011

As regras pessoais de escrita de Clarice Lispector


Notações de Clarice

1) Ler tirando o excesso de adjetivos brilhantes
2) Ler tirando as palavras "modernas", as soluções modernas, os modismos, as repetições que indicam processos fáceis.
3) Ler tirando tudo o que sinceramente não parecer bem, parecer quebrar (?).
4) Se puder em alguns casos, deixar os fatos indicativos, tirando a idéia.
5) Ler tirando o que parece com Joana (*).
6) Retirar paradoxos, pensamentos complicado-fácil (sic).
7) Tirar certo grandioso (sic).
8) Modificar frases excessivamente ricas.
9) O presente ou imperfeito são os únicos tempos nobres do romance (colocado entre aspas à mão).
10) Tirar o excesso do primeiro capítulo: o tempo rodava sobre si mesmo... Fazer mais limpo, mais gideano.
11) Tirar os brinquedos, os tom falsamente inocente. Tudo é sério.
12) Tirar os "como" de analogia: a coisa é o que ela simboliza. Não bonita como um lirio, mas ela era um lirio.
13) Fazer diálogos vazios e vulgares entre as pessoas.
14) Não fazer dos outros personagens uns bonecos: surgem pouco, mas dão impressão de vida e profundeza.
15) Apagar os vestígios de qualquer processo - não explorar senão de modo diferente os achados.
16) Espalhar mais ela-não-sabia-que-pensava.
17) espalhar a vulgaridade dela em várias cenas.
18) Esqueci o lado ridículo de Daniel, mesmo (?)... (Este item foi escrito à mão por Clarice, não dá para ler a continuidade)


Notas:
Estas regras parecem ter sido criadas para O Lustre, o segundo livro de Clarice, escrito em 1946.
(*) Joana era personagem de Perto do Coração Selvagem, primeiro romance de Clarice.
(?) : dúvidas ao texto... Ou quando existe uma citação que somente a autora conhece a fonte.


O romance O LUSTRE pode ser lido clicando aqui.

O manuscrito de Clarice Lispector pode ser lido ampliadamente aqui.

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