segunda-feira, 14 de maio de 2012



Culparam de tudo aos ditadores militares que eram, pós sessenta e quatro, os sugadores do céu da história. Entrementes, mesmo o governo é governado. 

ALÊU E A SEREIA (XXII)

MorteaoPALestr+anTE= Sem que ele atinasse. A noite da profanação cultural cercava o destino falastrão de Adamastor Pastinha. “Sabe ou não sabe demais esse peste? Tem de morrer para aprender a se concentrar no que é útil...”. O Tenente Das Dores confidenciou isto parado na porta de uma loja de cortes de pano para festas de noivados, casamentos e batizados. Da tal Loja Paulista ele avistou ao longe o Adamastor Pastinha, meio cambaleante, indo em direção da igreja da Nossa Senhora dos Pretos Fôrros. Nisso o Tenente coça o cano de escape do seu revólver e passa a acompanhar o cabra, sem muita pressa. O Tenente também estava na direção da igreja: “esse fala-mansa não me escapa... Dessa vez esse Maranhão não foge... Chegou a hora dele se acabar bem no punho do meu dedo de mira...”. O Adamastor vai entrando na igreja, passando rente aos bancos carcomidos pelo uso e se benzendo diante de uma imagem de São Benedito. O meganha, portador de melindres e covardias, vem de fininho logo atrás. No após, ouve-se nitidamente. Passos no chão de pedra lavrada. E além disso. Um velho tosse e cospe seu catarro na entrada da igreja. Um cão cisma de entrar no templo junto com o Tenente. Logo fica esperto. Toma um safanão de bota. Gane e zarpa. Nada mais se agita. Alvo na mira. Só o penteado de Adamastor toma uns arrepios com o acerto da primeira bala vinda de trás para frente. “Ui!”. Foi relôtriscô no sambôlevô... Na capela da vida, conta-se o causo tangiverso de como um ex-professor e taxista, pai de família, amigo fiel, está agora imerso em vermes molhados no invertido do documento autorizado de viver. Os balaços estouraram o seu escutador de boleros. Culparam os ditadores militares que eram, pós sessenta e quatro, os sugadores do céu da história. Entrementes, mesmo o governo é governado. Pois no estrebucho de uma solução. Em consulta com os pais de santo. No terreiro de Oxossi, dois meses depois, o sangue de um galo glorificou o destemido taxista morto. Dentro deste terreiro. No baticumbum dos atabaques. Quando a gira chama. Um policial, em descompromisso de farda, até que tentou se controlar, mas o santo encavacou no bruto e o fez rodopiar, solto assim, no espalhar da roda, feito um pião ensinado. Depois esse policial correu ao derredor, aos pulinhos da dança do curumim, e se ajoelhou obedecendo ao santo do dia. Olhe bem, preste atenção. Se for para se indignar que se indigne no momento do agora. Pois a viúva do Adamastor Pastinha, um pouco depois, deu de soletrar o soneto da gata louca. Algo que seja lá entre ela e o hedonismo. Não é que ela encasquetou de querer trepar com o tal militar aluado pelos santos? Pois, a vida é quase um bicho. E, em cada instante, no bruto do viver, passamos por todo inteiro rastro da lesma do nojo. Eis a colheita na casa da azeitada viúva alegre e, sobretudo, arrependida: ela com dezenas de bicos de frango ciscando no quintal, com prego na parede segurando o retrato à óleo do antigo casal e com uma baita pica dura arreliando no seu embornal de carne. Tudo promete serventia. Pois nesse vai e vem, essa própria Creuzinha, ex-mulher do defunto Adamastor, coincidiu de se amasiar com certo Capitão da Polícia Militar. Aquele mesmo que recebeu o santo e cedeu à sua serventia. Sendo, no amargor, das coincidências, o tal Capitão, amigo íntimo do safado do Tenente Das Dores, justo o que sapecou chumbo na cabeça do finado. Coisas do amor e do ódio que essa vida contrata, mas não ensina. “Você tem é a xeréca quente, Creuzinha...”. Disse-lhe uma vizinha, pois achava pouca vergonha ela se juntar com alguém oriundo dessa cambada da polícia. Inclusive ela foi logo se aferrar com um agregado do Tenente que sapecou bala no cocuruto do Adamastor. “Eles é que se entendam!...”. No que Creuzinha emendava: “no início também tive medo...”, e aos mais chegados Creuzinha explicava as miudezas daquele sarapatel: “saibam que no fundo eu não lamento, nem me arrependo de trocar um pangaré bêbado como era o Adamastor por um garanhão zero-quilômetro como o meu Capitãozinho”. Inclusive, afirmava a Creuzinha, que tirou seu corpo do fogão e agora vivia na seda: “vejam se não compensou?”.  Ela até argumentava que teve lições de direção na picape Ford V8 do Capitão e que sacolejava de bom grado no bráulio desse garanhão. O fato é que esse tal macho alforriado com a Creuzinha, meio que para sarar dos seus quebrantes, agora também tocava os azougues dos tambores afros na casa de Maraíra Menezes, uma que trabalha os guizos com a orientação direta de Oxossi... Pois o que se vê, por alto assim, nesta estória averiguada do temível Adamastor Pastinha, é que os jornais pouco ou nada sabem, pois num desses, lido e relido, por Aleuzenev no recôndito de sua cela, diz-se em letras helvéticas: MORRE ADAMASTOR PASTINHA: O TERRORISMO PERDE UM DE SEUS MAIS FORTES ALIADOS!... 

Beto Palaio

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