sábado, 5 de janeiro de 2013




ESTÓRIAS QUE SE CONTAM NO BEM-TE-VI.

O Makulelê se ajeita no propósito de espichar as estórias de beira-rio. Sua cabeça é uma moringa remelenta de tantas marés conversadeiras. Prenhes também de fatos deste nosso mundo, o dos atazanados, e também daquele outro, o mundo dos afamados. E lá vem ele. No seu catarro de contar. Esse caso do Mr. Lippy que desvira em menino Baguri, é afirmativamente um dos casos verídicos que o imenso rio dissimula. Na poesia do contador de estórias. Águas de versejar que versejem. Os fatos desfilam com repiques dos tambores do imaginar. Onde alguém cai num rio de boca sugadora. Ali há gatos que miam no ouvido do afogado. Esse zum na testa é sinal de morte certa. Nem de fato. Todas as mortes. Pois vem o talzinho do Baguri, o menino de guelras, e convence o possível afogado para juntos irem até uma rebimboca de lodo e miasmas. Sugere do semi-vivo seguir com ele até o mais fundo, do fundo do fundo, daquele rio. Lá estando, diante de qualquer falta de resistência, o menino se empesteia de se transformar no molusco diabo. E tal um polvo famélico, absorve o que restou do afogado, para ninguém mais saber de que semelhante criatura viveu de verdade aqui em cima. “No meio dos vivos de verdade”, como finaliza a estória o experimentado Makulelê.

- Ah, seu Makulelê... Não inventa estórias... Fica botando medo na cabeça dessas duas mocinhas tão lindas...

A Srta Mile, junto com Magaly, riram muito quando ouviram este achincalhe vindo de uma das arrumadeiras do navio. Uma mulher vistosa apelidada por Pata Loló, pois seus avultados de rebolados eram por demais avassaladores, indo lá e cá, como para imitar os passos que uma verdadeira patinha inventa para atazanar a cabeça lá dos patos. Entretanto Makulelê ainda tenta defender o patrimônio dos contadores de causos:

- Vai rebolar noutra freguesia, ô Pata Loló!

E lá se foi a Pata Loló, evidentemente rebolando ao máximo. Ladeando um azul-piscina de fazer chispas, em contraponto ao azul-turquesa da lateral do Bem-Te-Vi e o biquíni de uma turista, que vinha no sentido contrário, em arroxeado de azulão, tal louça portuguesa, para o muito azulejar, conhece pela labuta, o azulejista de mão cheia. E lá se foi a Pata Loló, a arrumadeira, ao macio de descobrir. Em sua conveniente aventura. Rebolando para uma dupla de moços gamados, estacionados na proa. Eles em cochicho. Num enlouquecido mirar aos seus guardados, lá dela. No batismo do fogo no rabo. Loló topa fazer uma sacanagem, tendo os dois na mesma trama. Na cama-beliche, logo-logo, um trio em cama-de-gato. Dois prá lá e uma prá cá. Um emplacado ménage a três, estofado no cafuzo, fique-fique nos aveludados fofos, em festas para a xãna de Pata Loló. Na pirraça de gostar de pica. A Pata Loló, agora é rumbeira do Cachenê, num moqueio de arrebentar saia justa, onde no ajuntado, essa Pata Loló acontece de ser, no entre dois, a rainha do remelexo. Para justificar o arrepio. Topou de ir com eles num quartinho. Onde se guarda baldes, vassouras, botijões enferrujados e onde, providencialmente, existe uma cama-beliche. Para uma arrumadeira de sarna para se coçar. A Pata Loló só fez brilhar de felicidade. Os dentes dos morenos mordiscando. Seus recheios de muito bom proveito. No balanço geral da lexicografia romântica. Ao destino solitário de marinheiro mercante. Não há recreio melhor que um camarim de arrumadeira.

Os moços estão fisgados no embarabaô, carne à ocultar carnes, no entra e sái, no xispar de beijos, muito embora, beleza não tem finalidade, como parente da gente, espelho com defeito, espuma de sabonete ressecado, ou sermão de padre despeitado, deixa a pé, o mirador, com a toada em passo de ema, pescando caramujinhos, os apaixonados no eterno ansiar, vendo sem ver, mirando só por mirar, voejar de colibris, de canto de olho, no espelho torto, afiançou ao bicho desejo, de rosto derretido, que o dia agora é de frevo, no Curupaiti, do embarabaô, alinhavados para muito amar, a pele banza, igual a da Loló, vontade limpinha de namorar, seus folguedos, Santo Antonio para ouvir missas, marulho do rio-mar, no assoalho do navio Bem-te-vi, o vendedor de refresco, batucando na lata, acolá os bem vindos, lindos de se ver, os nunca embarcados, macetando areias, uma centena invertida, dá o bicho na cabeça, um mocotó é joelhada, todo filó arrepia, depois do coió cercado, carnaval de farinhada no salão, confetes nos castos arremates, do embarabaô, eita osga de fisga, amor de perdição, caranguejo peixe é.


- Eita homens gostosos de brincar... Mas não falem por ai que me curtiram de montão... Pois o Capitão é muito severo com seus empregados... 


Beto Palaio


Arte: Wendy Sharpe

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