sábado, 23 de julho de 2011

Ilustração experimental de Daniel Biléu para o livro Notas de Pensamentos Incomuns, de Anderson Fonseca.

Bicho: Lêmures e Consolos.

Os Lêmures choram (É isto!)… e choram, e choram em conchas marinhas que os Consolos, ali, a seus pés, mantém com as mãos suspensas abaixo dos seus rostos.

Serviçais da beatitude e da compaixão, os Consolos conservam os olhos voltados para baixo, somente lhes é permitido retirar dos olhos dos Lêmures as santas lágrimas que derramam e preservar para que continuem justas. Mas aos Lêmures não é dado outro direito senão de lamuriar e receber compaixão. E choram (É isto!)… e choram. Ah, se motivo houvesse as lágrimas os Consolos alcançariam com sucesso a razão de suas vidas, mas não, os Consolos vivem para o fracasso de recolher e guardar as lágrimas que os Lêmures derramam, somente assim, serão Consolos (Recolher e guardar! Recolher e guardar! Jamais responder a questão da dor!). Mas certa vez, um Consolo atreveu-se a olhar um Lêmure, oh, piedoso Consolo, idiota! idiota! tornou-se um Lêmure, e o outro morreu por falta de um Consolo, oh, estupidez e ironia, houve desordem, mas logo, tudo voltou a ser como antes, nasceu um Consolo para o mais novo Lêmure.

E uma outra vez, um Consolo quis dialogar com um Lêmure, e disse: – Olá, Lêmure, choras e choras e não dizes porquê. Me diga, o que choras?

– O Fim.

Bastou. E o Consolo começou a lamentar.

Ora, ora, este é o ofício sacerdotal do Consolo, recolher as lágrimas e guardar, jamais um Lêmure compreenderia, até mesmo o Consolo.

Nenhum comentário: