Pintura: Pamela Joseph após Magritte.
DEFENESTRAÇÃO
Joguei ontem pela janela
uns óculos de gatinho,
um trem de Minas,
mil fraldas de pano;
joguei um gnomo,
um piano,
uns anéis;
joguei fotos amareladas
e aquarelas ruins
dos tempos de criança;
joguei crochês, agulhas, pincéis;
joguei fora montanhas
e um rio e uma ponte,
joguei um Belo Horizonte,
um frasco de perfume,
um maço de cigarros
(ninguém quer que eu fume),
uns batons enrijecidos
e sentimentos adormecidos
(como se não tivessem raiz);
joguei pela janela
a memória de uma Isabella
e alguns sonhos infantis
de curau de milho verde,
goiabeiras e geléias;
joguei até o que não fiz;
algumas idéias também joguei,
embrulhadas em tecido adamascado.
Fui para o alto do telhado
e fiquei lá
em silêncio quase atávico
olhando a rua, a vizinhança,
a freguesia
que já não mais me pertencia.
Jane Chiesse Zandonade
Um comentário:
O poema é bem verdadeiro, não é mesmo? Obrigada por postá-lo! Bjs!
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