quarta-feira, 28 de setembro de 2011



NO GIRA-GIRA COM BRIGITTE.

HOMENS VOLTAM DA LUA. Isto na capa de A Tarde. Em 1968. Instituição e hipocrisia são duas torres ruindo. Na falta de emergências, em flores, TV à cores, de fluidez aromática. Cavalos estroboscópios que se desfazem em licores. De repente. Uns viciados, tal hoje em dia, no utilizável. Nomes de famílias protegidas nas Páginas Amarelas. Filtros fumáveis. O combinado papai-mamãe indo embora para sempre. No high society. Como uma tigela vazia. Corria-se, on-the-rocks, em mais de um paradeiro. “Você ainda vive a embriaguez da Disneylândia?”. Sonolentos, on-the-roads, desfeitos do sonho prestes a acabar, perseguindo linhas de trem enevoadas, dormentes para imaginárias patas de cavalos. Pastelões correndo loucamente numa fita carrossel. Em paralelogramos e trapézios. Numa só negociata internacional, coisa mancomunada com o dito-cujo, e Jó perderia seu harém inteiro. Mil e duzentas amantes emigraram da Tunísia para a França. E Jó no peco-peco da masturbação. Sem mais nada. No castigo divino. O meio é a mensagem. O rosto em quadricomia é cinema desde o tempo de Jó. Truculento maio de 1968. Cabelos descorados na pia. Água oxigenada num frasco. Não há terra como a dos escravos de Jó. Que jogavam caxangá. Pois o rosto impresso é cinematografia em zigue-zigue-zá. Só para fazer mídia. O ego. Inventava-se mais de uma reunião com aquela metade de maçã verde posta a girar. Bolacha preta com um furo no meio. Emprestada da Apple. Girando Get Back na vitrola Phillips. OS BEATLES ESTÃO VIAJANDO. Uma revistinha underground estivera também na Índia, curtindo o barato todo. Somado aos tons das motosserras. Nós estamos num gelo de parafernália perceptível e sideral. Bizarra fita de vídeo. Cavalos. Deitados em lençóis de linho. Ferragens saltitantes do último B52 abatido em Saigon. Depois... Silêncio. E a socialite e modelito Brigitte, não a atriz. Segue-me, e se colocou a disposição para uma entrevista. Antes fomos ao seu garboso barco, “diga-me se, inclusive, não percebeu nada sério?”. Brigitte torturou-se para se tornar acessível numa só palavra: “não?”. Um dia totalmente azul é o único em que gato preto dá azar. E o dia era azul. Assuntos que iniciamos como se fossemos uma brisa, eu e Brigitte, na língua todas as áureas correntezas. Entretanto, como ela mesma sussurrou. “A coisa fácil, com a ótica da lei, complica muito”. E disse o motivo de haver respondido estar andando com o pé esquerdo, “uma moçinha...”, segundo soube detalhes com o Mascarado, seu primeiro marido, essa “moçinha”, era quem lhe fornecia cocaína. Mas ainda não seria o fim do mundo. Ainda não era. Aquele em que todos iremos filmar e retransmitir desde a borda da falésia limítrofe. Pois o fim do mundo virá mesmo da Patagônia. Depois viveremos de novo debaixo do inferno verde antagônico. Tão salários de serpentes catatônicas. Entretanto estaremos seguros ao batente, sob o qual, nos protegeremos do histriônico. Cataclismo total. Isto está na capa de uma revista: BRIGITTE AJOELHOU-SE EM TRIBUNAL. Aos donos da imprensa fez-se o crepúsculo. Ela anunciava a tendência ao esquecimento abrupto em juízo. Parece até poesia. Na cabeça de quem não leu o corpo de Brigitte em sua totalidade. Ela sendo loira 100% carnes claras. Ajoelhou-se ali para dizer que adorava sexo. Turbilhão de amor. Os flashes. Desligaram a lei nesta precisa ocasião. Ensimesmou-se, o Juiz, em palavras-ostras. Outras palavras saltitam no tubo espelhado das TVs do mundo todo. “Eu adoro sexo, Sr. Juiz, juro que sim”. Entretanto. O ganho de causa foi para o ex-marido. Ela não entendeu. Poderia ter mentido. Que era escandinava na cama. Fria como uma morsa. Tatuada como uma mandarina da china. Enquanto do lado de fora, uns tanques de guerra, cães na rua, gente farejando sacolas e bolsas alheias. GOVERNO BAIXA NOVO ATO. Perdemos todos nós. Vinte anos de inanição. Nem cousa nem lousa. “Você vai querer ser o primeiro a me acalmar depois dessa palhaçada?”, Brigitte no barco de Adriano. Se oferecendo para ele. Um Adriano embotado, self-made man, de tanto esmero, tilintava. Que tinha Brigitte na conta de um brinquedinho caro. De repente largou tudo. A excessiva amante Brigitte. O seu barco Anamour. A vida sem mérito nenhum. Brigitte saltitava sobre as almofadas do convés. Queria afundar o barco. Espalhar grãos de papoula pela calçada. Estava agora globalmente sozinha, pois Adriano partira na companhia do capitão do barco. Ela jurava que estavam se beijando. Os dois dando-se as mãos, se equilibrando na prancha que prendia o barco Anamour à marina. Eu entrei na vida dela assim. Pedi para fotografá-la. Pretendia usar um filme 200 Asa. Ela estava a meio sol. Florescente no cio. “É só a foto que você quer?... Tem certeza?... Olha lá, heim?”. A verdade é plena, assim assado, ou Hipoglós ou vaselina. Como no despertar da Bela Adormecida. Num misto de luz arroxeada, transei pela primeira vez com Brigitte na cabine do barco, com as cortininhas roxas todas fechadas. Depois confeccionamos momentos mais coloridos. Andávamos com o antigo barco de Adriano a toda. O mar liso como os cabelos de Brigitte. E ela datilografando seu possível livro numa velha Remington, enquanto eu fazia curvas com o barco à toda velocidade. “Isto faz bem ao meu texto”, ela dizia rindo, “mas vou acabar vomitando seu esperma”, dizia rindo mais ainda. E ria. E ria. E ria enquanto lia o que acabara de escrever na Remington sob o efeito das curvas e da maresia: “medifda por medidfa sim ep verdades eis era muito mais livre quan doque hojes oipodfia esscrever nla milnha maqkuina reminghgton e tudo saieoa saia certinha na linhas aquie mesmo quanero eu errava de teckal faz fasz e sair assim meior tojsurotorto besm toersto”. Sugeri à ela que editasse um livro todo assim. “Lindo de morrer”, disse eu, citando uma frase usual em 1968. Ela ficou séria. De repente. Achou legal também aquele texto todo salpicado de nonsenses. “Gostei!... Pode girar mais ainda o barco... Vou continuar escrevendo!”.


Beto Palaio

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