terça-feira, 6 de setembro de 2011




O AMOR EM CONSEQÜÊNCIA

A mão cheia de areia por haver apanhado cacos de uma xícara quebrada pelo cliente. Lixas que imitam um instante fugaz roubado quem sabe, pelo Alibabá e seus 40 ladrões, políticos fajutos, maus patrões, meninas peladas da janela em frente. O olhar penetrante, e retira-se dali, sabendo que estávamos todos cineticamente conectados, os deuses resolveram modificar a estória num quadro negro riscado e borrado de giz, mas os tais desenharam ali, tão somente, um círculo excepcionalmente bem desenhado.

- Por isso me calo...

Dizem que na superfície de um ícone de alumínio nunca há ferrugens. Tudo acena com o para sempre dos nossos dezessete anos, força bruta, teimosia, suor charmoso, e bicicleta morro acima. Quando retornamos ao mesmo andar notívago. Ele gostava era do feio, em arte, do macerado, em caipirinhas de limão, do machucado, em doces penetrações, de possessões diabólicas, em se tratando de amor.

- Leia nas entrelinhas minha alma...

Seu gosto pelo cansaço, extrapolou, ficou ao medíocre, inclusive um algo desengonçado, do patrão ao pai, o enfoque da rua, por uma onda no sofá. Depois desceu do universo. Daquele círculo inicial cirúrgico como o planar, em vôo, de um corvo negro. Juntasse-lhe apenas um toque pervertido, em choque com textos, que lhe segredava estritamente sobre mim mesma...

- Isso... Isso... Isso...

Naquela mesma noite anterior. Sentia-se como numa trepidação sensual, touro à unha, pulsante, um romance entre outros silêncios. Entretanto as desculpas esfarrapadas que flutuam no armário da gente... Potes destampados, a tensa barata buscando ocultar-se por detrás de um vidro de cravos e canelas. Com o tratar mesmo de ser pulsante, com a meticulosa descrição, o romance ficava além das baladas, e foi amparado pelos braços fortes de uma semana.

- Por isso me calo...

O açougueiro quis me dar o troco das compras com a metade de um ganso morto. Naquela mesma noite variei com ela, roupas rimando com os abajures, para trocarem carícias afogueadas, bebericando chuvas de banhos juntos e licores variados. Em tudo um cunho reparador de uma música pré-programada. Mas ela disfarça. Finge concordar que está inteiramente despreparada para o primeiro amor, que não conseguiria, mas assoviava sensualmente, um eu te amo em francês.

- Je t´aime.

Eles eram crianças nessa vida. Tudo bem, mas não propriamente iniciantes. “Você é aeromoça mesmo?”, aconteceu aquilo de ter de perguntar à risca todas as nuances, entre tantos momentos, pertenço a tantas outras mulheres, minha mãe entre elas, e Florinda, e Cartuxa, e Familinha. Esta tal Familinha me prometeu mundos e fundos, cama e escadas rolantes, labaredas e sentires mútuos, assinaturas de par a par num documento de cartório. Ah, o que não abduzi de minha própria vida para salvar essa beleza fugaz de Familinha! É sempre um acréscimo o que vem com juros. O que a boca cala a alma expressa. Nem a tudo a palavra contempla.

- Não termina assim o meu poema... Será que termina assim?



Beto Palaio

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