domingo, 23 de outubro de 2011

AS METAMORFOSES, DE OVÍDIO.

...Assim aquele deus, fosse qual fosse, a massa,

primeiro, dividiu em lotes e ordenou,

para que igual ficasse em toda a parte, dando

à terra a aparência de um imenso orbe.

Então o mar rompeu-se com os ventos rápidos

desandou a circundar os litorais da terra.

Reuniu pântanos, fontes e grandes lagoas,

por entre sinuosas margens cingiu rios,

que em parte se absorvem em vários locais,

em parte vão ao mar, e acolhidos no campo

de águas livres, em vez de margens, tocam praias.

Mandou dilatar campos, vales abaixar,

selvas cobrir de folha, erguer montes rochosos.

E, como há no céu duas zonas à direita

e outro tanto à esquerda e uma quinta mais tórrida,

assim um deus zeloso o globo dividiu

por igual, e outras tantas plagas tem a terra.

Por causa do calor, não se habita a mediana,

cobre duas a neve; entre ambas pôs as outras,

que, misturando fogo ao frio, temperou.

Cobre-as o ar, que tanto é mais leve que a terra

e a água, quanto mais pesado do que o fogo.

Lá as névoas, e lá as nuvens, pendurar

mandou, também trovões que aterram mente humana

e os ventos que, com raios, rabiscam relâmpagos.

O criador do mundo, entanto, não lhes deu

a posse do ar ao léu; a custo, agora, impede-os

- embora cada qual assopre em sua rota -

de o mundo varrer, pois grande é a rixa entre irmãos.

Euro se foi à Aurora, aos reinos nabateus,

à Pérsia e às montanhas sob luz matutina;

Vésper e as praias, mornas pelo sol poente,

de Zéfiro estão perto; a Cítia e o Setentrião

Bóreas frio invadiu; a região contrária

se umedece de chuva e assíduas nuvens de Austro.

Em cima pôs o éter límpido e sem peso,

que nenhuma impureza terrena contém...

(Trecho do Livro I)

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