segunda-feira, 24 de outubro de 2011


Minha Querida Sputinik - Haruki Murakami

A TEMPESTADE DO DESTINO

Por vezes o destino é como uma pequena tempestade de areia que não pára de mudar de direção. Você pode mudar de rumo, mas a tempestade de areia vai atrás de você. Volta a mudar de direção, mas a tempestade se segue, seguindo no teu encalço. Isto acontece uma vez e outra e outra, como uma espécie de dança maldita com a morte ao amanhecer. Porquê? Porque esta tempestade não é uma coisa que tenha surgido do nada, sem ter nada a ver contigo. Esta tempestade é você mesmo. Algo que está dentro de ti. Por isso, só te resta se deixar levar, mergulhar na tempestade, fechando os olhos e tapando os ouvidos para não deixar entrar a areia e, passo a passo, atravessá-la de uma ponta a outra. Aqui não há lugar para o sol nem para a lua; a orientação e a noção de tempo são coisas que não fazem sentido. Existe apenas areia branca e fina, como ossos pulverizados, a rodopiar em direção ao céu. É uma tempestade de areia assim que deves imaginar. (...) E não há maneira de escapar à violência da tempestade, a essa tempestade metafísica e simbólica.

Haruki Murakami, in 'Kafka à Beira-Mar'




Capa da NY Times Magazine

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