quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O AMOR EM SINTAXE TURÍSTICA

“Domingo em que um coração naquela tarde chega aos golpes”. Será que dói no ouvido ler uma frase torta dessas? A frase foi dita por uma americana linda que conheci por acaso, num vernissage de um pintor de prestígio. “Alguma novidade se eu fosse pentear minha cabelo?”, ela se fechou no WC do restaurante. Ao beber água direto da torneira. Não se acanhava com nada. Quis desfrutar de um papelote que tirou da bolsa. Ela encantava-se com nossa gente. Gostava de brasileiros. “Mandei pouquinho só”, a americana falava isso quando dizia que “mandou ver na cocaína”. “Fiz borrar a rosto”, era assim que ela justificava seu último retoque da maquiagem. “Querer é ser amigo da soda misturada”, uma beleza de frase esta, que ela nunca traduzia para falar no momento certo, isto é, usava essa jóia aleatoriamente, ao seu jeito sensual de ser. “Pois é um presentinho”, minha amiga dizia isso gostosamente quando aceitava fazer amor comigo. “A mulher em cada estréia é ambulante”, frase bizarra que ouvi dela no café da manhã, depois de uma noitada maravilhosa. Quis que ela morasse de vez no meu apartamento. Entretanto ela estava, naquela manhã, com um folheto promocional de viagem para o México: “mediante sua cara, foi um bom quarto, mas preciso ir para conhecer esta cidade”, falou isso como se contasse a última grande novidade, apontando no mapa para a cidade de Nezahualcóyotl. Logo depois ela pousou em mim seus feiticeiros olhos verdes: “também você quer viajar o México, aceita?”. Não disse nem que aceitava, nem que não aceitava. Mas não estava interessado, de jeito nenhum, de conhecer Nezahualcóyotl. Entretanto respondi: “vou sim”. Naquela semana. Corri como um maluco para conseguir ajeitar o passaporte. Segunda, Terça, Quarta, Quinta, Sexta... Demorou cinco dias para acertar a papelada. Depois fomos juntos para Nezahualcóyotl...

Beto Palaio


Nenhum comentário: