quarta-feira, 28 de março de 2012


No sábado Alêu se arrumou como para uma festa, tudo pela moça de olhos verdes.


ALÊU E A SEREIA (X)


SeguINDO+MangaGAÍ= A flor não tem conhecimento de que é uma flor e nem imagina que entretém o mundo com sua beleza. A fruta, a paixão e a carne também não sabem de si. Assim revela-se a memorável janela indiscreta das insinuações. Onde somos bem-vindos ao epicentro do real desengano. Com o amor a inventar caminhos que são revelados pelos loucos e poetas. Verdadeiros seguidores dos romances de folhetim. Pessoas que se buscam e eventualmente se topam. No tal jogo de tentativa e erro. Pois há aqueles que brincam na chuva e aqueles que apenas se molham. “Ah, estavas tão tranqüilo Alêu, posto em sossego!”. Alêu defende qualquer loucura para perseguir sua revelada prenda. Ela, a gata de olhos de esmeralda, a morena mais frajola da Bahia. Uma delicia de quindim que ele quer seguir. Primeiro ele a acompanha com os olhos. E depois vai indo atrás dela. Disfarçadamente. Só para descobrir em que convento se esconde tão rara beleza. Nesta cobiça. Ele vai, passo a passo, atrás da moça e da freira, que seguem com pressa por uma escadaria longa que desemboca numa rua pavimentada por pedras aplainadas, unidas por argamassa, de onde desponta uma calçada ladeada por um muro repleto de heras, no qual está encravado um caramanchão semicircular, artístico e jeitoso, que possui um portão de ferro de mil detalhes floridos e de volteios, o qual revela um tortuoso corredor de acesso, ao fundo do qual está disposto um belo edifício setecentista que é o do Convento da Anunciação de Maria... E Alêu vai indo atrás... Vai indo... Vai indo... Vai indo... Ele só pára no caramanchão do portal, enquanto elas entram apressadas no edifício... “Cáspita!... E agora, será que perdi essa gatinha?”. Caso para se pensar. Com tantas manhas e artes inventadas. A descoberta da pessoa amada reveste-se de mil mistérios. Assim estava escrito. Durante aquela semana Alêu montou plantão nas proximidades do convento, mas nada dele avistar a morena de olhos verdes que ele conhecera no parque de diversões. No sábado seguinte ele foi novamente ao parque da Fonte Nova e... Nada dela aparecer! E o fato é que Aleuzenev não conseguia esquecer de jeito nenhum daquele rosto lindo com olhos de tigresa. Ele até pensou em fazer um escândalo na porta do convento só para ver novamente aquele rosto de anjo. A bela face que lhe lançou um canjerê, uma visão que ficou tão entranhada dentro dele, que ele acaba até por ter um sonho absurdo com ela. No sonho aquela menina estava com ele no Egito dos antigos faraós, entre esculturas, pirâmides, pés de tâmaras, areias escaldantes e os doces aposentos de um castelo à beira do Rio Nilo. Ali, a moça do parque de diversões era uma dançarina Núbia que vinha levá-lo passear por entre tamareiras e depois eles faziam amor dentro de um castelo cercado de objetos luxuosos. Neste serralho, Alêu deitava-se com ela em suaves e gulosas penetrações seguidas de banhos perfumados. Estavam naufragados, os dois, numa abundância exagerada de rosas verdadeiras. Entretanto. Sob o sol de Salvador, num dos dias daquela semana, Alêu saiu logo cedo de casa e foi andar pela Barra e depois se ajeitou num buzão que o levou até Itapuã. Ele ficou andando pela areia de Itapuã. Somente mirando a solidão imensa das ondas e, da janela do seu pensamento, ele falou para si mesmo: "se tiver outra chance ela vai passear novamente no parque e vai acabar topando ir girar comigo na roda-gigante... E eu estou topando tudo para ver aqueles olhos verdes de novo". Com isso Alêu viu o reflexo daqueles belos olhos na arrebentação das ondas... Tudo fazia com que ele não a esquecesse. Contudo, a semana demorou, mas passou... E no sábado ele se arrumou como se fosse para uma festa, pediu um perfume emprestado para sua vizinha de quarto e foi mais cedo para o parque...


Beto Palaio

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