segunda-feira, 19 de março de 2012

O sertão (de fora e de dentro) tal como uma sarça ardente.


ALÊU E A SEREIA (I)


ORitMOdAch+UVa= Aconteceu numa dessas noites. Quando Barrabás Pereira só se lembra que estava dirigindo no meio da tempestade. Em seguida ele ouviu um ruído tal o estouro de um saco de pipocas. Um imenso objeto de aço escorregava no asfalto criando um troar de ferragens saltitantes. Depois... Silêncio. Barrabás sentiu uma friagem de grama molhada grudar do lado esquerdo de seu rosto. Ali perto um grilo cantava intermitente. Apareceu-lhe então um túnel de luz com ele andando em seu interior. Ele ouvia nitidamente um eco de barulho de passos e de crianças gritando ao longe. Sua vida pregressa foi voltando para ele como um filme que flui ao contrário. Barrabás Pereira havia retornado, naqueles breves segundos, para a casa dos seus avós maternos. Entretanto ele sente um arrepio ao adentrar aquela casa, pois ela estava inteiramente vazia. Ali quase todas as manhãs seu avô o levava, algo um passeio inadiável, até o cemitério para visitarem o túmulo da avó. Durante o trajeto eles sempre colhiam uma flor silvestre para dedicarem a ela. Agora, após o acidente com o carro, ele refaz aquele trajeto sozinho e, coisa incrível, lembrou-se até de apanhar uma flor enquanto caminhava. No cemitério Barrabás Pereira ouve o som da terra sendo jogada pelas pás acompanhadas de baques surdos. Tudo numa escuridão absoluta, como se a terra estivesse sendo jogada sobre o seu próprio corpo entorpecido. Depois uma constatação, quando ele vê ao redor os seus parentes, amigos e conhecidos. Barrabás então desconfiou que algo estivesse errado, mas muito errado mesmo. Com isto sentiu até um calafrio. Desejou voltar para casa e, numa pirueta bastante flexível, foi parar dentro da sua antiga escola primária, onde ele estava distraído na sala de aula e esboçava um barco a velas utilizando, para isto, toda uma caixa de lápis-de-cor. Depois Barrabás viu que era hora do recreio, sentiu fome e procurou pela lancheira, onde havia pão com goiabada. Prontamente aquele perfume da goiabada fez com que Barrabás fosse direto para a companhia de sua querida mãe onde, logo em seguida—algo a mais para surpreendê-lo—ele era apenas um bebê. Assim Barrabás passou a sugar do leite materno, mamando avidamente nos seios dela. Na seqüência tudo ficou muito escuro, mas ele ouvia o pulsar do coração de sua mãe e sentiu-se flutuar dentro de uma bolsa que lhe trouxe muita serenidade. Posteriormente ele adormeceu... Adormeceu profundamente... Mas este livro nem era para narrar a vida de Barrabás Pereira. Inclusive não era e nem será. Porque o personagem deste livro, embora seja também brasileiríssimo como Barrabás Pereira, logo surgirá com sua ginga, seu nome cartorial de fonética russa e um desejo baiano de se dar bem. Não demorará em ele aqui botar sua banca, mas não agora, porque as circunstâncias pedem por uma exposição inaugurativa que seja aguerrida, superficial, eterna, chinfrim e marcante. Onde no desmembramento e na determinação tentaremos construir uma Babel que faça valer nossos próprios preconceitos, hábitos e conformismos. Algo ameno oriundo dos deveres nacionalistas a abalroar a vida de egos alvissareiros e sutis. Frágeis criaturas estas. Comparadas, sem nenhum exagero. Às sementes com derredor algodoado. Panamericanas e plumosas. Num fio de tentativa. Dadas a arriscados vôos. Deste modo. Enquanto ao vulgo. Envoltos, paridos. Em pobres cerrados. Ou ao vasto. Destes lanígeros a planar. Pela extraordinária leveza do ser. Aos doces sonhos. Mesmo arriscando-se nos mil espinhos da carqueja ou do mandacaru. Aos gerais, os tais esporos flutuam. Ou aplainam. Embora todos os sacrifícios purifiquem. Na ordem deste mistério. Abriu-se um mar. Com seu rantãtã de tambor oculto numa simples concha verde-amarela. No emaranhado. Escrito tinhas. Pasquins com as tais consagradas fotografias. Só condescendentes. Nas manchetes em destaque. A casa do azeite a ferver dias históricos. Num macaréu de saramandaias e locomotivas e day-by-days e roques-santeiros e irmãos-coragens. Com efeitos de cinema os movietones de Primo Carbonari cinquentaram, sessentaram e setentaram. Foi quando um compacto simples disse: “por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir. A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir”. Em vista disto a censura foi estabelecida através de atos institucionais. Os não-gêmeos governando o mundo. A paz gazeteira em debandada. Aos teus, Xarope São João e Cafiaspirina. Enquanto nos mordem cães de guerra. Cancros buscando a cura num passaporte feito de silêncio. Todos eles perfilados. Para além dos Andes, ou em caribes de surinames pouco toleráveis. Até numa Paris sonolenta ou em uma Londres enregelante. Vide outros mecanizados grandes sertões. Esperava-se pelo recado dos exilados. Vós, ó côncavos vales. Uma manzorra, ventania, fustigava as dunas. O maior oceano é o da liberdade de expressão. As correntes do julgamento avançam. Um deteriorado ônibus de turismo surge na auto-estrada. Urge contar aqui uma estória. Nesta mágica e misteriosa viagem. Sem casca, sumo ou miolo. Aos torós multinacionalizantes. Num ramo de enxerto comparativo. Desapareceram com o dono das vacas ordenháveis. Em texto chinfrim. Nem o veterinário, nem o leiteiro, nem o confeiteiro sentiram sua falta. Entretanto. Imolaram um sargento do Exército. Vespas eletrificadas zumbiram. E o seu fator sangüíneo evidenciou-se do Chuí ao Aiapóque. Pedidos de revanche. Admirável mundo vingativo. A rigor, cassetetes, todavia. Nada como uma revoluçãozinha para convocar o treinamento. O herói sendo um misto de Batman, castelo de cartas e sarça ardente. Pow! Crash! Crinch! Bang! E a TV treme. Razões de sobra. A desconfiança é fruto de magarefes em uniforme cáqui. Com tal esmero. Até o espírito Brasil quis baixar numa seção de mesa branca. E a estória se apresenta desde a raiz da macaxeira. Perfex videx acelerex. Chaminés de bangüês. A boa seiva repara o corte. E o contado flui. A própria existência sendo destinada à sentença máxima. Vem e vai; dá e toma; escasseia e passa. Nesta tapeçaria multiforme. A floresta recua e a sarjeta aceita o desterro. Logo mais se saberá das minúcias. Dos conformes. De como um reles compensado de Madeirite foi fabricado com cedro, mogno e pau-brasil. Ao bom ouvinte, um péssimo serviço de alto-falantes. Muitos, no entanto, se revelarão. Dispostos à cautela. Pois aqui as letras são comissárias de bordo. Lindíssimas. Cheias de glamour. Podendo ser criaturas hermafroditas. As tais ninfas de rios e fontes. E a seguir, palavras tonificadas, mais ainda, romanceadas nos canais folhetinescos, surgem para espatifar a nave de encontro aos arrecifes. Dizem os poetas que as palavras azulejam. E que as letras são como zumbis renascidos. Ou namoradinhas do sol. Irmãs interpretadas. Germes imorredouros. Sorte de quem. Vocábulos que surjam na porta da frente. Escancarada por inteira. Enquanto sovinas e pobretãs. No varal tremulam nossas roupas comuns dependuradas. Cumpre ao modo de pressa. Para os que almejam consagrar o poraquê eletrificado. Quando um sinistro fado espreita ao justo. Letras abaladas neste propósito. De mãos dadas. As boas sementes algodoadas. Precipitam-se para a corredeira. Precavidas contra os tais celacantos que engendram maremotos. Até ao mar profundo. Ao troar da cornucópia. As letras têm de estarem atentas...


Beto Palaio

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