RIOBALDO E JOÃOZÃO.
Minha fala num documentário?... Heim? – O que é
isto? – O senhor proseou em filmar por aqui? – Nem soubesse que esse seu jipe
da TV surgiria desde o Rio de Janeiro? Lonjuras de além-montanhas?... Ou,
também, quem for, viesse pelas cabeceiras... Não é mesmo?... Sei sim... Acertou de
adivinhar... São esses mesmos... Meninos campeiros do por aqui pertinho. Vieram
emprestar minhas armas, cedi. Não gloso com caça miúda. O senhor pergunte aos
moradores. Sem falso receio. Sei que desfalam do inteirado buritizal, do meu
encontro primeiro com a guerra... Que lá estiverem, isso apreceio, bala no
besunto alheio é afeição... Viu, não viu?... Com essa gente porfalando de meus
passados erráticos... Porque é que o senhor ri certas risadas?... Olhe: quando
é dito em feitio de sertão, isso não assusta? Ah, o que é que existe de ter de
maior lá? Lugar sertão está em volta. Viramundos. Esses gerais são sem estatura
certa. Enfim, cada um se entenda é com o Galício e o Caramujo, dois canoeiros
do agora. Estes atravessam até um mar engomado pelas cabeceiras! Desses que
engruma e pincha o barco até o pra debaixo do repuxo... Em certos trechos do Das
Velhas... Ruim de maleitoso, esse um de rio, abrocado, é em escorrega, ao
pedregoso, sem final... Ou, também, quem for. Não tenho abusões. O senhor é
quem se ri com risadas... Olhe: quando é que o senhor estude: agora mesmo,
nestes dias de uns vinte minutos bastava... Porque o Galício sozinho abraçava o
Rio do Chico pelas nascentes. Será já no canto do galo, ao latir da cadela
sertaneja, chances, instantaneamente. O senhor tolere, ou não. Tem fazendas e fazendões,
pano pra manga de uma semana esticada. Isso bastava... Porque se costeava um
rio de corpo vivo – esse um que deu afogamento a muitos mortos... O senhor
tolere, isto é que é, de onde se executa; razão de rezas e, fim, com paz se
convive. Sentença dum Aristides Matador – dizem só: o aqui vir – Nonada! – O
senhor se instrua: agora mesmo, nestes dias de vargens em rezas, tudo taramelado
e cuspido, noites na capela, mas com o capeta em contorno... Esses gerais são
sem tamanho. Enfim, cada um tem seu choramingar, atrás da vela, ceras guardadas,
ou em mata, madeiras de bom render, as vazantes, cheiro podre de cachorro morto
por onça – deu num abelheiro – Dessas umas ferroadeiras. Eis o Jarmino quem deu
tiro no fofo de papelão do ninho delas. Nem ficou um zé que fosse por perto. Quando
zuniu. Elas gritam por vingança crua. Assim as tais, se não matam um homem,
atacam nos cavalos e miudeza de passarinho, mesmo os da mata. Uma crueza – o
que se sabe releve – Uns costumes que se enraíza de fora, teria aparecido, e
uma pergunta, em mata lisa, ou nas de chanfro, cruz-cruzadas, bem que me
disseram; eu não quis foi avistar: uma espiriteira de aparecer visagem de
mortos findos e antigos. Lá no longe. Nas folhagens do amanhecer. Um escuro não
sendo. O Urucuia vem desde os rumos de oestes chuvosos. Mas, hoje, que o
respeito é de banda, não deixando, quando ele quer consentir, o tal moço, se
evita, de se redobrar nos Santos-Evangelhos. Em ocasião, conversei com uma
pergunta atrás da outra, em garganta fina, o farrear de cigarro a cigarro, gravetos
de passagem, ao João Guimarães Rosa – Esse foi quem mais me perguntaria, coisas
miúdas, do Grande Sertão, ao justo colocado, no embornal, lá dele... Eita homem
mais pererê!... Ele, Dotô Joãozão, era um padre para muitas missas? Veredas? Para
aqui vir? – E não foi?
Beto
Palaio
(Escrito à maneira de JGR, em homenagem ao Pelada Poética)
Arte: Gravura de Poty
Nenhum comentário:
Postar um comentário