segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013



RIOBALDO E JOÃOZÃO.

Minha fala num documentário?... Heim? – O que é isto? – O senhor proseou em filmar por aqui? – Nem soubesse que esse seu jipe da TV surgiria desde o Rio de Janeiro? Lonjuras de além-montanhas?... Ou, também, quem for, viesse pelas cabeceiras... Não é mesmo?... Sei sim... Acertou de adivinhar... São esses mesmos... Meninos campeiros do por aqui pertinho. Vieram emprestar minhas armas, cedi. Não gloso com caça miúda. O senhor pergunte aos moradores. Sem falso receio. Sei que desfalam do inteirado buritizal, do meu encontro primeiro com a guerra... Que lá estiverem, isso apreceio, bala no besunto alheio é afeição... Viu, não viu?... Com essa gente porfalando de meus passados erráticos... Porque é que o senhor ri certas risadas?... Olhe: quando é dito em feitio de sertão, isso não assusta? Ah, o que é que existe de ter de maior lá? Lugar sertão está em volta. Viramundos. Esses gerais são sem estatura certa. Enfim, cada um se entenda é com o Galício e o Caramujo, dois canoeiros do agora. Estes atravessam até um mar engomado pelas cabeceiras! Desses que engruma e pincha o barco até o pra debaixo do repuxo... Em certos trechos do Das Velhas... Ruim de maleitoso, esse um de rio, abrocado, é em escorrega, ao pedregoso, sem final... Ou, também, quem for. Não tenho abusões. O senhor é quem se ri com risadas... Olhe: quando é que o senhor estude: agora mesmo, nestes dias de uns vinte minutos bastava... Porque o Galício sozinho abraçava o Rio do Chico pelas nascentes. Será já no canto do galo, ao latir da cadela sertaneja, chances, instantaneamente. O senhor tolere, ou não. Tem fazendas e fazendões, pano pra manga de uma semana esticada. Isso bastava... Porque se costeava um rio de corpo vivo – esse um que deu afogamento a muitos mortos... O senhor tolere, isto é que é, de onde se executa; razão de rezas e, fim, com paz se convive. Sentença dum Aristides Matador – dizem só: o aqui vir – Nonada! – O senhor se instrua: agora mesmo, nestes dias de vargens em rezas, tudo taramelado e cuspido, noites na capela, mas com o capeta em contorno... Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um tem seu choramingar, atrás da vela, ceras guardadas, ou em mata, madeiras de bom render, as vazantes, cheiro podre de cachorro morto por onça – deu num abelheiro – Dessas umas ferroadeiras. Eis o Jarmino quem deu tiro no fofo de papelão do ninho delas. Nem ficou um zé que fosse por perto. Quando zuniu. Elas gritam por vingança crua. Assim as tais, se não matam um homem, atacam nos cavalos e miudeza de passarinho, mesmo os da mata. Uma crueza – o que se sabe releve – Uns costumes que se enraíza de fora, teria aparecido, e uma pergunta, em mata lisa, ou nas de chanfro, cruz-cruzadas, bem que me disseram; eu não quis foi avistar: uma espiriteira de aparecer visagem de mortos findos e antigos. Lá no longe. Nas folhagens do amanhecer. Um escuro não sendo. O Urucuia vem desde os rumos de oestes chuvosos. Mas, hoje, que o respeito é de banda, não deixando, quando ele quer consentir, o tal moço, se evita, de se redobrar nos Santos-Evangelhos. Em ocasião, conversei com uma pergunta atrás da outra, em garganta fina, o farrear de cigarro a cigarro, gravetos de passagem, ao João Guimarães Rosa – Esse foi quem mais me perguntaria, coisas miúdas, do Grande Sertão, ao justo colocado, no embornal, lá dele... Eita homem mais pererê!... Ele, Dotô Joãozão, era um padre para muitas missas? Veredas? Para aqui vir? – E não foi?


Beto Palaio


(Escrito à maneira de JGR, em homenagem ao Pelada Poética)


Arte: Gravura de Poty

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